PRESENTE DE NATAL

Sei que nesta data todos já deverão ter comprado os seus presentes de Natal. Cada um segundo seu desejo, suas posses, seu grau de amizade e a fé que faz na relação familiar ou social.

Mamei Mauss no livro “Essai Sur Le Don”, deixa claro que os presentes são como o óleo que lubrifica o mecanismo das relações sociais. Todos são vulneráveis a um gesto, uma atitude. O presente, na sua essência, é ato de amor, fraternidade, reconhecimento ou interesse.

Baruch Spinoza, filósofo do século XVII, no livro “Ética” diz que: “O presente é uma forma de expressão, um momento de encontro ou de realização. É a participação mística entre o humano e a divindade, é favorecer a si e aos outros. Os maiores presentes que recebi foram os ensinamentos que incentivam o indivíduo ao despojamento, à liberdade e à compreensão; na sua maioria me foram transmitidos na forma poética, na música, na literatura e nas artes”.

Ponha pois o seu coração no presente. Deixe que sua alma embrulhe o que tiver escolhido. Faça-o com amor, com a alegria de criança e o sonho de moça donzela. Ultrapasse os limites do formalismo e se dê junto com o presente. Importa se quem recebeu captou a sua intenção. Se não houve o “click”, o tempo encarregar-se-á de mostrar os seus sentimentos e as verdadeiras intenções de seu gesto.

Neste Natal não seja apenas um ente pantagruélico, exorcize o medo de se aproximar de Cristo e, do fundo do coração e na intimidade do seu recolhimento, permita-se a um reencontro. Reencontro que se lastreia nas falhas, iniquidades e desesperanças, mas se eleva com a consagração do perdão, próprio das religiões que não punem e nem criticam. Ao contrário, estendem a mão (seja de Cristo, Buda ou Maomé) e aconchegam os que, humanos, falhos e carentes, precisam de amor e esperança.

Neste Natal vá ao encontro dos que você ama, sem medo e com o passo firme dos que ainda acreditam na força do amor.

Neste Natal ligue-se até em quem você carimbou como inimigo, desafeto e adversário. Ligue-se com sinceridade e sua voz fluirá como um poema e uma luz clareará o seu espírito, aplainando as arestas, brigas, questões e a vaidade de não se curvar à essência da fraternidade.

Neste Natal acredite na aura de paz, nos sons que inebriam a sensibilidade e não tenha receio de ser simples e amigo. Basta, como consta na essência de todas as religiões, o amor a si próprio e a perene, inadiável e confortável capacidade de amar ao próximo.

Feliz Natal.

João Soares Neto,
escritor