MEUS HOMENS

Faltando 06 dias para o ano de 1999 terminar e com essa estória da mídia publicar listas disso e daquilo, pois não é que me lembrei de fazer a lista dos cinco homens com os quais mantive contato pessoal, mesmo que eventual, e que ficaram no meu “Top of the mind”, ou no topo das minhas lembranças.
Da vida universitária dois nomes surgiram cristalinos: Heribaldo Costa e Parsifal Barroso. Heribaldo era professor de Introdução à Ciência do Direito e a ele devo parte do pouco que aprendi de filosofia e lógica. Austero, obrigava os alunos a usar paletó em suas aulas e teve a coragem de dar mais de cem zeros em uma prova semestral. Houve uma campanha forte contra ele e a aposentadoria o acolheu.
Parsifal era Governador do Estado e dava aulas de Ciência Política com a simplicidade de um padre e a fluência e o saber que Deus lhe deu. Falava pausado, era enfático e apaixonado pelo conhecimento. Vez por outra, me pedia carona para ir deixá-lo em palácio.
Vão me chamar de presumido (faz mal não), pois vou citar três nomes consagrados mundialmente. Em 1962 passei num concurso e fui fazer um curso de verão na Universidade de Harvard. O coordenador do curso era Henry Kissinger, que viria a ser, em seguida, Secretário de Estado e o segundo homem mais importante dos Estados Unidos, apesar de ser judeu alemão. Nariz adunco, óculos grossos, voz com sotaque, grave e rouco, ficava fulo da vida quando se falava em imperialismo americano e, uma vez, nos perguntou sobre “o imperialismo paulista”.
Nessa mesma viagem fomos a Washington para uma visita a várias autoridades. Eu, como fazia direito, integrei um pequeno grupo que teve a sorte de conversar com Bob Kennedy, então Ministro da Justiça. Seu gabinete era amplo, poltronas de couro e um grande quadro abstrato na parede principal. Ele era jovem, absolutamente descontraído e cordial. Em cima do seu birô repousava um capacete amassado de soldado e a seus pés dormitava um enorme cão. Na hora da informalidade, perguntou se sabíamos a razão daquele capacete estar ali. É claro que não sabíamos. Disse ser o símbolo da luta pelos direitos civis dos negros. Brincalhão, indagou quem entendia de pintura para explicar o seu quadro abstrato. Muitos palpites, nenhum acerto. Ele riu e falou que era uma chuva de papel picado quando das comemorações da eleição de seu irmão John.
De paletó e gravata, todos ficamos nos jardins internos da Casa Branca, ali onde os presidentes dão entrevistas. De repente, lá vem John Kennedy. Louro, queimado de sol e paletó azul marinho. Falou de sua “aliança para o progresso”, perguntou quantos futuros presidentes do Brasil sairiam dali e trocou palavras amenas com alguns de nós. A mim, por exemplo, perguntou de que região eu era. Nervoso, troquei nordeste por noroeste. Quatro meses após ele seria assassinado em Dallas.
Feliz Ano Novo para todos.

João Soares Neto,
escritor
CRÔNICA PUBLICADA NO DIÁRIO DO NORDESTE EM 26/12/1999.