“Este mundo da história certamente foi feito pelos homens; ele traz dentro de si o mistério da mente humana, e é feito à sua imagem e semelhança. Se alguém refletir a respeito de tal fato, certamente provará espanto, considerando que todos os filósofos esforçaram-se para obter a ciência deste mundo natural…” Gianbattista Vico, filósofo italiano, do tempo de Borges da Fonseca.
No dia 28 de julho de 2013 recebi um presente valioso. Um exemplar, em capa dura, com 656 páginas, impresso em papel pólen, usando a tipia American Garamond 12/15, tamanho 23cm x 31cm, com esmerado acabamento gráfico. Tratava-se do primeiro volume – de um total proposto de dez-da genealogia, biografia e história da família “Albuquerque. A herança de Jerônimo, o Torto”. Jerônimo, patriarca de 36 filhos documentados. Essa familiação foi o start up, o ponto fora da curva que caiu no microscópio histórico de alguém com muito que fazer, Cândido Pinheiro Koren de Lima. Ele é médico oncologista e empresário, que foi do zero ao Zenith.
A façanha de Cândido Pinheiro causou-me impacto e deixou provado que o conhecimento é de quem, com fundamentos, dele se apropria, através de estudo percuciente, a partir de informações encadeadas que germinam. Não é o conhecimento dos que apenas se imaginam letrados. É preciso pô-lo à prova e isso ele o fez com a mistura de povos diferentes: muçulmanos, índios, judeus e os portugueses, tido como brancos. Trouxe tudo à tona, de forma judiciosa, destacando esquemas.
A oncologia cirúrgica, especialidade primeira de Cândido Pinheiro, pode ter sido a matriz de seu método investigativo. Ele foi e é um investigante. Seja ao elaborar protocolos cirúrgicos; ao identificar mercado de trabalho médico para, repito, sair do zero ao Zenith. Na maturidade existencial descobriu-se genealogista, com paciência, lucidez e método; insumos básicos para mirar o seu monóculo na nau “Nobiliarquia Pernambucana”, obra capitaneada por Borges da Fonseca no século 18, e ser um remador fundista para extrair em anais, pesquisas, viagens, visitas e estudos a raiz ontológica de seu livro.
Este espaço não me dá suporte para adiantar mais sobre o livro ora enfocado. Deixo claro, de plano, que não sou crítico literário. Mas estas balizas alinhavadas pediam para ser escritas com mais proficiência. Fi-lo como pude, tal um Jânio Quadros atarantado diante da profundidade que Cândido Pinheiro alcançou com uma sonda de diamante imagética. Quem quiser conhecer a obra procure uma boa livraria e faça bom proveito. Como bem o disse Miguel de Unamuno, escritor espanhol do século passado: “ler muito é um dos caminhos para a originalidade; uma pessoa é tão mais original e peculiar quanto mais conhecer o que disseram os outros”.
João Soares Neto,
escritor
CRÔNICA PUBLICADA NO JORNAL O ESTADO EM 21/02/2014.